segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Vamos brincar de poesia?


1) Leia os poemas

 Convite
              José Paulo Paes
Poesia
é brincar com palavras
como se brinca
com bola, papagaio, pião.
Só que
bola, papagaio,pião
de tanto brincar
se gastam.
As palavras não:
quanto mais se brinca
com elas
mais novas ficam.
Como a água do rio
que é água sempre nova.
Como cada dia
que é sempre um novo dia.
Vamos brincar de poesia?

: Matéria de Poesia
                Manoel de Barros
*
Todas as coisas cujos valores podem ser
disputados no cuspe à distância
servem para a poesia

O homem que possui um pente
e uma árvore
serve para poesia

Terreno de 10x20, sujo de mato – os que
nele gorjeiam: detritos semoventes, latas
servem para poesia

Um chevrolé gosmento
Coleção de besouros abstêmios
O bule de Braque sem boca
são bons para poesia

As coisas que não levam a nada
têm grande importância

Cada coisa ordinária é um elemento de estima

Cada coisa sem préstimo
tem seu lugar
na poesia ou na geral

O que se encontra em ninho de joão-ferreira :
caco de vidro, garampos,
retratos de formatura,
servem demais para poesia

As coisas que não pretendem, como
por exemplo: pedras que cheiram
água, homens
que atravessam períodos de árvore,
se prestam para poesia

Tudo aquilo que nos leva a coisa nenhuma
e que você não pode vender no mercado
como, por exemplo, o coração verde
dos pássaros,
serve para poesia
As coisas que os líquenes comem
- sapatos, adjetivos -
tem muita importância para os pulmões
da poesia



Tudo aquilo que a nossa
civilização rejeita, pisa e mija em cima,
serve para poesia

Os loucos de água e estandarte
servem demais
O traste é ótimo
O pobre – diabo é colosso

Tudo que explique
     o alicate cremoso
      e o lodo das estrelas
serve demais da conta

Pessoas desimportantes
dão para poesia
qualquer pessoa ou escada


Tudo que explique
     a lagartixa de esteira
     e a laminação de sabiás
é muito importante para a poesia

O que é bom para o lixo é bom  para poesia

Importante sobremaneira é a palavra repositório;
a palavra repositório eu conheço bem:
     tem muitas repercussões
como um algibe entupido de silêncio
      sabe a destroços

As coisas jogadas fora
têm grande importância
- como um homem jogado fora

O Menino que Carregava Água na Peneira
Manuel de Barros

Tenho um livro sobre águas e meninos.
Gostei mais de um menino
que carregava água na peneira.

A mãe disse que carregar água na peneira
era o mesmo que roubar um vento e
sair correndo com ele para mostrar aos irmãos.

A mãe disse que era o mesmo
que catar espinhos na água.
O mesmo que criar peixes no bolso.

O menino era ligado em despropósitos.
Quis montar os alicerces
de uma casa sobre orvalhos.

A mãe reparou que o menino
gostava mais do vazio, do que do cheio.
Falava que vazios são maiores e até infinitos.

Com o tempo aquele menino
que era cismado e esquisito,
porque gostava de carregar água na peneira.

Com o tempo descobriu que
escrever seria o mesmo
que carregar água na peneira.

No escrever o menino viu
que era capaz de ser noviça,
monge ou mendigo ao mesmo tempo.

O menino aprendeu a usar as palavras.
Viu que podia fazer peraltagens com as palavras.
E começou a fazer peraltagens.

Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O menino fazia prodígios.
Até fez uma pedra dar flor.

A mãe reparava o menino com ternura.
A mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você vai carregar água na peneira a vida toda.

Você vai encher os vazios
com as suas peraltagens,
e algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!

2) Vamos brincar com as palavras e carregar água na peneira? Leia os textos abaixo e crie novas imagens por meio da poesia.

a)       Eu quero amar todos os dias da minha vida. Ainda que não seja a mesma pessoa. Afinal, ninguém ama apenas um alguém por toda a vida. As pessoas que afirmam isso são mentirosas.

b)       Eu tenho um amigo que parece um irmão. Quando eu preciso dele, sempre está disposto a me ajudar.

c)       Gosto de lembrar dos lugares que nunca fui. Eles são tão lindos.

d)       Todos os que conheço são campeões em tudo, menos eu.

e)       O passado não vale a pena. Só o presente importa.

f)        Fico olhando o meu caderno de desenhos e sinto tantas saudades das pessoas que fizeram parte da minha infância e hoje já não estão mais presentes. As saudades tem cor...

Você também pode criar seus poemas sobre um outro tema que achar melhor.

3) Observe as pinturas.


 


 



a)       Escolha uma delas e responda: Que elementos chamam a sua atenção.

b)       Imagine-se no lugar retratado e tente descobrir todas as sensações possíveis que o ambiente desperta em você. Que palavras expressam tais sensações?
c)       Use as palavras que expressam suas sensações para escrever uma poesia e transformar as palavras em imagens capazes de mostrar os seus sentimentos.

Depois, poste seus dois poemas nos comentários abaixo. Não se esqueça de colocar o seu nome. 


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