1) Leia os poemas
Convite
O Menino que Carregava Água na Peneira
José Paulo Paes
Poesia
é
brincar com palavras
como
se brinca
com
bola, papagaio, pião.
Só
que
bola,
papagaio,pião
de
tanto brincar
se
gastam.
As
palavras não:
quanto
mais se brinca
com
elas
mais
novas ficam.
Como
a água do rio
que
é água sempre nova.
Como
cada dia
que
é sempre um novo dia.
Vamos
brincar de poesia?
: Matéria de
Poesia
Manoel de Barros
*
Todas
as coisas cujos valores podem ser
disputados
no cuspe à distância
servem
para a poesia
O
homem que possui um pente
e
uma árvore
serve
para poesia
Terreno
de 10x20, sujo de mato – os que
nele
gorjeiam: detritos semoventes, latas
servem
para poesia
Um
chevrolé gosmento
Coleção
de besouros abstêmios
O
bule de Braque sem boca
são
bons para poesia
As
coisas que não levam a nada
têm
grande importância
Cada
coisa ordinária é um elemento de estima
Cada
coisa sem préstimo
tem
seu lugar
na
poesia ou na geral
O
que se encontra em ninho de joão-ferreira :
caco
de vidro, garampos,
retratos
de formatura,
servem
demais para poesia
As
coisas que não pretendem, como
por
exemplo: pedras que cheiram
água,
homens
que
atravessam períodos de árvore,
se
prestam para poesia
Tudo
aquilo que nos leva a coisa nenhuma
e
que você não pode vender no mercado
como,
por exemplo, o coração verde
dos
pássaros,
serve
para poesia
As
coisas que os líquenes comem
-
sapatos, adjetivos -
tem
muita importância para os pulmões
da
poesia
Tudo
aquilo que a nossa
civilização
rejeita, pisa e mija em cima,
serve
para poesia
Os
loucos de água e estandarte
servem
demais
O
traste é ótimo
O
pobre – diabo é colosso
Tudo
que explique
o alicate cremoso
e o lodo das estrelas
serve
demais da conta
Pessoas
desimportantes
dão
para poesia
qualquer
pessoa ou escada
Tudo
que explique
a lagartixa de esteira
e a laminação de sabiás
é
muito importante para a poesia
O
que é bom para o lixo é bom para poesia
Importante
sobremaneira é a palavra repositório;
a
palavra repositório eu conheço bem:
tem muitas repercussões
como
um algibe entupido de silêncio
sabe a destroços
As
coisas jogadas fora
têm
grande importância
-
como um homem jogado foraO Menino que Carregava Água na Peneira
Manuel
de Barros
Tenho
um livro sobre águas e meninos.
Gostei
mais de um menino
que
carregava água na peneira.
A
mãe disse que carregar água na peneira
era
o mesmo que roubar um vento e
sair
correndo com ele para mostrar aos irmãos.
A
mãe disse que era o mesmo
que
catar espinhos na água.
O
mesmo que criar peixes no bolso.
O
menino era ligado em despropósitos.
Quis
montar os alicerces
de
uma casa sobre orvalhos.
A
mãe reparou que o menino
gostava
mais do vazio, do que do cheio.
Falava
que vazios são maiores e até infinitos.
Com
o tempo aquele menino
que
era cismado e esquisito,
porque
gostava de carregar água na peneira.
Com
o tempo descobriu que
escrever
seria o mesmo
que
carregar água na peneira.
No
escrever o menino viu
que
era capaz de ser noviça,
monge
ou mendigo ao mesmo tempo.
O
menino aprendeu a usar as palavras.
Viu
que podia fazer peraltagens com as palavras.
E
começou a fazer peraltagens.
Foi
capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela.
O
menino fazia prodígios.
Até
fez uma pedra dar flor.
A
mãe reparava o menino com ternura.
A
mãe falou: Meu filho você vai ser poeta!
Você
vai carregar água na peneira a vida toda.
Você
vai encher os vazios
com
as suas peraltagens,
e
algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos!
2) Vamos brincar com as palavras e
carregar água na peneira? Leia os textos abaixo e crie novas imagens por meio
da poesia.
a)
Eu
quero amar todos os dias da minha vida. Ainda que não seja a mesma pessoa. Afinal,
ninguém ama apenas um alguém por toda a vida. As pessoas que afirmam isso são
mentirosas.
b)
Eu
tenho um amigo que parece um irmão. Quando eu preciso dele, sempre está
disposto a me ajudar.
c)
Gosto
de lembrar dos lugares que nunca fui. Eles são tão lindos.
d)
Todos
os que conheço são campeões em tudo, menos eu.
e)
O
passado não vale a pena. Só o presente importa.
f)
Fico
olhando o meu caderno de desenhos e sinto tantas saudades das pessoas que
fizeram parte da minha infância e hoje já não estão mais presentes. As saudades
tem cor...
Você também pode criar seus poemas sobre
um outro tema que achar melhor.
3) Observe as pinturas.

a)
Escolha
uma delas e responda: Que elementos chamam a sua atenção.
b)
Imagine-se
no lugar retratado e tente descobrir todas as sensações possíveis que o
ambiente desperta em você. Que palavras expressam tais sensações?
c)
Use
as palavras que expressam suas sensações para escrever uma poesia e
transformar as palavras em imagens capazes de mostrar os seus sentimentos.
Depois, poste seus dois poemas nos comentários abaixo. Não se esqueça de colocar o seu nome.
Nenhum comentário:
Postar um comentário